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Trump força Brasil ao pragmatismo na COP30

Feb 7, 2025 IDOPRESS

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

RESUMO

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GERADO EM: 06/02/2025 - 21:49

Brasil busca parcerias na COP30 para contrapor ações de Trump

O Brasil ajusta estratégia na COP30 devido aos possíveis planos de Trump de esvaziar o evento. Busca parcerias com países emergentes,como China,para contrapor ações dos EUA. Destaque para a importância do Sul global na busca por compromissos climáticos e a preparação para possíveis obstáculos na negociação. Medidas incluem formar coalizões,engajar setor produtivo americano e adotar postura pragmática. Lula busca resultados concretos na cúpula,com foco em ações efetivas. Expectativa de apoio da China e desafios com a postura dos EUA.

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A perspectiva de que o governo de Donald Trump atue para esvaziar a Cúpula do Clima levou a um ajuste na estratégia inicialmente pensada para a COP30 pelo Palácio do Planalto,que buscará intensificar contatos e acordos com países emergentes,em especial com a China. A aposta da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva é em parcerias com países do chamado "Sul global" como forma de compensar a oposição dos americanos a ações para conter as mudanças climáticas.

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O objetivo é formar uma coalizão de países com capacidade de pressionar por um texto final com compromissos claros,entre eles o efetivo pagamento de ajuda a países em desenvolvimento e medidas para acelerar a redução de emissões. Além disso,com o apoio desses parceiros,o país espera reduzir o risco de outras nações sentirem-se motivadas por Trump a se opor acordos.

Para o presidente da COP30,embaixador André Corrêa do Lago,preocupa que “surjam divisões” dentro de alguns países sobre a realidade da mudança do clima,como se vê nos Estados Unidos,mas o cenário traz “oportunidades”.

— O Sul global poderá ganhar mais voz e,com isso,dar forma a uma resposta à crise climática que atenda às nossas prioridades e necessidades,que seja feita de modo sinérgico com o desenvolvimento econômico e a redução das desigualdades sociais — afirmou Corrêa do Lago.

Expectativa sobre EUA

A diplomacia brasileira não trabalha com o cenário no qual os EUA estejam ausentes da COP30,programada para novembro em Belém,no Pará. Os americanos seguem como signatários da Convenção do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) e o processo de saída do Acordo de Paris,formalizado por Trump em janeiro,não é imediato. Ainda assim,segundo integrantes do governo,o cenário mais provável é que haja o envio de quadros de escalões inferiores do governo americano.

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Caso essa possibilidade se confirme,isso pode comprometer o andamento das negociações,reduzindo as chances de um acordo ambicioso,dizem diplomatas. Em cúpulas internacionais,se os negociadores não têm a hierarquia necessária para firmar compromissos,eleva-se o risco de o texto final ter de ser muito simplificado para se chegar a um consenso. Na prática,essa “desidratação” pode comprometer o resultado da COP.

Integrantes do Itamaraty dizem que uma primeira mostra da postura americana será vista em algumas semanas quando haverá reunião de ministros dos países do G20. O grau de engajamento dos EUA ali pode dar pistas de como a administração Trump deseja se comportar em fóruns multilaterais.

De qualquer forma,o governo brasileiro já se prepara para trabalhar em três frentes de forma a mitigar a esperada resistência americana à COP30. Além de trabalhar para angariar aliados do Sul global,o time de Lula planeja fazer pontes com o setor produtivo americano e com governadores conectados com a agenda climática para mostrar que a visão de Trump não representa todo os EUA,e adotar uma postura de pragmatismo na negociação,com foco na implementação de metas já existentes.

Para essa estratégia,a Cúpula dos Brics,que ocorrerá em julho no Rio,ganhou peso ainda maior. Ela terá como um de seus temas principais as mudanças climáticas por sugestão do Brasil. O plano é buscar entendimento com os parceiros do bloco em ações na agenda do Clima de forma a encaminhar o apoio desses países na COP30.

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—Já está claro que a COP de Belém será a mais importante das 30 COPs. Ninguém previa que a elevação da temperatura global ocorreria na velocidade que estamos vendo. Será preciso algo muito ambicioso. Com a eleição de um presidente negacionista nos EUA,os países terão de se comprometer ainda mais para compensar. A China,por exemplo,vai ter de assumir esse espaço — diz o climatologista Carlos Nobre,um dos principais especialistas sobre mudanças climáticas do país.

A China tornou-se parceiro preferencial não só por duelar com os EUA na arena geopolítica,mas pelos recentes investimentos em economia verde. O país despontou nos últimos anos como importante fabricante de carros elétricos e painéis solares,o que facilita o engajamento do governo chinês no tema. Já a Índia tem mais dificuldades internas para superar,ainda assim,é parceiro essencial neste momento.

Chegar à COP30 com um bloco de aliados robusto pode ajudar a conter o desejo de outros países de seguir os EUA e endurecer o discurso contra compromissos na área ambiental. Uma preocupação nesse sentido é com a Argentina,de Javier Milei,que chegou a retirar sua deleção da COP29,em Baku,no ano passado e dificultou entendimentos na Cúpula do G20,no Rio.

A diretriz de batalhar por compromissos de como colocar em prática os acordos já feitos atende a um pedido de Lula,que já externou ao seu time diplomático desejo de entregar uma cúpula com “resultados” em vez de apresentar somente grandes metas que talvez não se concretizem. Mas esse caminho também pode,em alguma medida,ajudar a contornar resistências dos Estados Unidos,apostam integrantes do governo e especialistas.

— Na COP29,foi preciso baixar o sarrafo,afrouxar um pouco para ter todo mundo no barco. Em Belém,há expectativa de fazer a coisa acontecer,de ser uma COP mais de ação e não tanto de falação,de buscar o concreto — diz Roberto Schaeffer,professor da Coppe-UFRJ e coautor de relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC) das Nações Unidas.

Palco internacional

Para isso,a ideia do Planalto é usar todos os palcos possíveis no exterior para falar sobre a agenda climática e angariar apoio. O plano é não só maximizar as aparições de Lula,mas inserir em seus discursos um chamado à cooperação global contra o aquecimento do planeta.

Além dos países do Sul global,a atuação da União Europeia também passou a ser essencial. Está prevista em junho a participação do petista na Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano,em Nice,numa viagem que contará em seguida com uma visita oficial do petista a Emmanuel Macron. O clima estará no centro da agenda.

Na volta,Lula abrirá a Cúpula Brasil-Caribe,em Brasília,um evento classificado como fundamental pelo Palácio do Planalto,já que as ilhas da região são vozes importantes diante do risco de que a elevação do nível dos mares as faça desaparecer.

O Palácio do Planalto antecipa ainda que,em setembro,o discurso de Lula na Assembleia-geral na ONU será fortemente focado nos temas da COP. O objetivo é chegar em Nova York já com pontos em negociação avançada.